Depois desse parágrafo pessoal, me adentro no filme que já se tornou, pra mim, um dos melhores que assisti no ano de 2014 (sim, eu consegui ver no Festival do RJ) e, talvez, um dos mais definitivos sobre um instrumentista ficcional. Sei que temos The Commitments, The Wonders, A Encruzilhada... mas todos esses, de algum modo, contavam uma certa jornada de seus músicos até se alcançar o estrelato, ou não. Em Whiplash não se trata de mais uma jornada de tentativas. Aqui, é a busca exata da perfeição técnica e intuitiva. Em poucos dias. Em um tempo limite, levado às últimas consequências. Uma busca quase obsessiva pela qualidade instrumental perfeita. Um Cisne Negro dos bateristas! E dentro dessa temática, Whiplash, consegue ser convincente e visceral do início ao fim!
Miles Teller (de Projeto X, Reencontrando a Felicidade, Divergente...) é Andrew, um jovem músico que quer a todo custo se tornar o melhor baterista do mundo. Até então, um desejo quase "clichê" de 9 entre 10 instrumentistas que treinam sem parar para alcançar essa perfeição. O que Andrew não imaginaria, é que não seria preciso apenas entrar numa das melhores Instituições Musicais de sua cidade... ele precisaria enfrentar James Fletcher, o Instrutor e Maestro responsável por formar uma brilhante orquestra com músicos igualmente brilhantes. E quando eu digo "brilhante" aqui, pensem em divindades reencarnadas em formas de instrumentistas. Fletcher não quer somente montar um coral de ótimos músicos, ele quer a perfeição em cada músico escolhido por ele. E se para alcançar esse deslumbramento é necessário brigar, humilhar, rebaixar, dar tapas na cara e fazer dedos sangrarem, podem acreditar que Fletcher fará isso com o sarcasmo mais demoníaco do mundo. É de dar pena! Imagine aquele sargentão de Nascido Para Matar feito por um inesquecível R. Lee Ermey, incorporado num instrutor musical que mais parece um Comandante do 3º Reich pronto para fuzilar o primeiro desafinado de sua orquestra. E todo esse sadismo cativante (sim, é cativante quando percebemos que Fletcher quer mesmo um músico perfeito!) se eleva ainda mais pela atuação magistral de J.K Simmons, naquele que já considero o seu melhor personagem!!! E se Simmons, oriundo de séries de TV, já havia provado seu talento em outros filmes para o cinema, aqui ele não só prova como joga na nossa cara de forma impiedosa. Em muitos momentos, tive vontade de socá-lo, cuspir na cara dele, rir de nervoso com seu olhar irônico e bater palmas de pé para sua interpretação... é de longe, um dos melhores coadjuvantes que eu já vi em cena!
Mas a carga dramática não fica só no tour de force de Simmons... Miles Teller consegue uma dobradinha excelente fazendo o seu personagem Andrew ser rebelde e desajeitado ao mesmo tempo, enfrentando os deboches e a quase crueldade do Instrutor Fletcher, juntamente com aquela típica desesperança familiar vinda de um pai (Paul Reiser) que não acredita num futuro promissor de músico, para o filho. Inclui aí ainda, uma tentativa de relação amorosa que Andrew sabe que está no fio da navalha e que terá que decidir o mais rápido possível, se ele realmente quer ser o melhor baterista do mundo.
E, se o diretor e roteirista Damien Chazelle conseguiu criar essa obra-prima sobre um instrumentista que tem todo o seu desafio mais visceral e dramático, exposto numa sequência final que já pode facilmente entrar no hall das mais inesquecíveis do cinema... então, eu preciso muito que Chazelle continue regendo em Hollywood!!!
Gostei muito do visual do blog, ficou bem original. Whiplash é uma pequena obra-prima ainda desconhecida do grande publico.
ResponderExcluir